quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Água potável vira artigo de luxo em municípios castigados pela seca e tem reajuste de até 100% no preço

O tambor de água custa em média R$ 18
O tambor de água custa em média R$ 18
Foto: Nilo Batista
O prolongamento da estiagem criou um comércio lucrativo de água nas cidades atingidas pela estaiagem. Um caminhão pipa chega a custar R$ 200, o dobro do que custava antes do período sem chuvas.

A seca e o baixíssimo nível de armazenamento nos reservatórios que abastecem os municípios paraibanos fizeram com que o preço da água potável disparasse no interior da Paraíba. A venda do produto se transformou num negócio lucrativo, tanto para o comércio formal, no caso da água mineral, como no alternativo, feito por comerciantes oportunistas que entregam água nas comunidades rurais mais afastadas das cidades. No caso da água mineral, um garrafrão de 20 litros chega a custar mais de 62% do que seu preço normal.
Com venda e lucro garantidos, por tratar-se de um item de necessidade básica em falta, o preço de um carro pipa cheio chega a R$ 200 em algumas regiões do Sertão e em municípios do Vale do Rio Piancó, onde a estiagem é mais agressiva. Em outras regiões castigadas pela seca, como o Cariri paraibano, a situação também se repete. A forma mais vendida, a lata simples, custa R$ 1,50. Mas existem disponíveis também caminhões cheios para abstecer caixas e até cisternas.Nesses casos, a qualidade da água não é garantida pelos fornecedores.
Em Monteiro, no Cariri, o preço da água mineral disparou de R$ 4,50 para R$ 7,00. "E ainda assim quando encontramos porque está sempre faltando", contou a dona de casa Francisca Marinho. Ela disse que maioria dos estabelecimentos, a água acaba poucos dias depois de chegar, porque a procura é grande e o preço ficou alto.  Por isso, ela acabou aderindo à compra de água na porta da casa dela, no sítio Tingui, zona rural do município.
A estiagem e a falta de planejamento dos gestores para lidar com o problema fazem surgir um comércio paralelo de água que não é mineral e que não traz garantias de qualidade. Ela é vendida geralmente em tambores de 150 litros e custa em média R$ 18,00. O produto vendido clandestinamente é usado principalmente para o consumo humano e para cozinhar.

"Se for usada somente para cozinhar e beber, a água de um tambor dá para 8 dias. Caso precise para lavar roupas e limpar a casa temos que gastar mais", contou Dona Francisca.

 Um comerciante de água, que não quis se identificar, contou que além do tambor ele vende o produto em lata para quem quiser comprar em menor quantidade. A lata custa em média R$ 1,50. Ele disse ainda que vai buscar a água para vender no município de Ibirim, em Pernambuco, que fica a 110 quilômetros de Monteiro. Com o aumento da procura, ele está trazendo mais de 20 tambores de 150 litros, que acabam em poucos dias. No município de Bernardino Batista, no Sertão do Estado, encher uma caixa dágua custa até R$ 50,00. Um negócio considerado lucrativo para o senhor Antônio Roberto. Ele disse que vai buscar água no município de Cajazeirinhas e traz para vender em Bernardino Batista (a 210 quilômetros).
Com o prolongamento da estiagem, o número de vendedores de água vem aumentando. "Que eu tenho conhecimento são dez caminhonetas que trazem água para vender aqui, mas acredito que a concorrência é muito maior", contou o comerciante.
Além de pesar no bolso num momento em que a situação financeira está mais difícil por conta da estiagem, o consumo de água de procedência duvidosa deve ser evitada por recomendação da Vigilância Sanitária, pois ela pode trazer riscos para a saúde. Caso não tenha opção, a recomendação é ferver e filtrar a água antes de consumir.
Os agricultores que não querem ou não têm condições de comprar água em Bernardino Batista têm que andar quilômetros para pegar água em poços que ainda armazenam o produto. Como é o caso do agricultor Ailton Francisco de Andrade. Ele contou que anda pelo menos dois quilômetros diariamente para buscar água para usar em casa.
 A água que encontra, geralmente é de péssima aparência, mas não se pode reclamar quando a escassez predomina. "A nossa situação está muito difícil. Só Deus para nos ajudar, porque não há mais esperança que a ajuda venha dos homens", desabafou o agricultor.
Na Paraíba, segundo levantamento da Agência Executiva Estadual de Águas (Aesa), os mais de 120 mananciais que abastecem os 223 municípios dispõem, atualmente, de 42% de suas capacidades de armazenamento de água.
O secretário de Infra Estrutura da Paraíba, Efraim Moreaes, disse que  o Estado dispõe 249 carros pipas que abastecem aqueles municípios onde a distribuição de água do Exercito não chega.  São 197 cidades com decreto de estado de emergência e conforme Efraim nos municípios que não havia carros pipas distribuindo água foram destinados três veículos.
Nos que tinham um só carro, foram disponibilizados mais dois e onde tinham dois carros foi destinado mais um para que nenhum município ficasse com menos de três carros pipas disponíveis para a distribuição de água.

Quanto aos carros pipas particulares que estão vendendo água, o secretário pediu para que os agricultores anotassem as placas dos veículos para uma eventual investigação com o objetivo de saber se eles são particulares mesmo ou se são aqueles que estão a serviço do Exército ou do Estado.
"As informações serão enviadas para o Comitê Estadual de Fiscalização das Ações de Convivência com a Estiagem para que as denúncias sejam investigadas", concluiu o secretário.


Portal Correio


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